A toxina botulínica (popularmente conhecida pelo seu nome comercial mais famoso: Botox) tem “Nível A de Evidência” para o tratamento da espasticidade e, hoje, é também considerada como um dos principais recursos para tratar a distonia. Por essa razão, a terapêutica com essa substância é considerada atualmente como um verdadeiro pilar do tratamento dos distúrbios motores do paciente com Paralisia Cerebral (PC).

No nosso último post aqui desta série sobre PC, vimos que a distonia e a espasticidade têm enorme prevalência entre esses pacientes. Vimos também o quanto esses quadros impactam no desenvolvimento geral, no bem-estar e na qualidade de vida dessas pessoas.

Sendo assim, o foco número um da assistência ao paciente com Paralisia Cerebral costuma ser a promoção de melhorias no seu estado físico geral, o mais cedo possível!

Isso, além de trazer mais conforto imediato (menos dores e melhor manejo pelos cuidadores), irá proporcionar melhores condições para as demais abordagens terapêuticas – inúmeras vezes contribuindo diretamente para evitar processos cirúrgicos para corrigir desvios posturais e deformidades ósseas e articulares, que hoje já conseguimos evitar com medidas preventivas.

MUITOS ANOS DE PESQUISAS E ESTUDOS

Atualmente, a toxina botulínica é muito popular pelos seus usos no campo da Medicina Estética. Mas o que muitos ainda desconhecem é que o uso medicinal dessa substância já remonta a quase meio século, tendo se iniciado na área oftalmológica, no tratamento do estrabismo e do blefaroespasmo (espasmos da pálpebra).

Desde o início da década de 1970 que pesquisadores investigam as propriedades “relaxantes” da toxina na prática clínica. Após muitos estudos e testes em animais, o uso da TB em humanos ganhou força a partir da década de 1980, tendo chegado ao campo da estética somente no início da década de 1990.

NÍVEL A DE EVIDÊNCIA

Hoje, quando falamos em “Nível A de Evidência” da toxina botulínica para o tratamento da espasticidade, isso significa, em termos médicos, que essa terapêutica deve ser referida pelos profissionais que cuidam desses casos como alternativa NÚMERO UM para tratar esses quadros. Fica, porém, a critério da família alinhar ou não com essa proposta.

É importante ter ciência ainda de que o profissional que indica e fala sobre essa possibilidade terapêutica nem sempre será o mesmo que irá realizá-la. As aplicações de toxina botulínica na área neurológica só podem ser feitas por médicos (em geral, neurologistas, neuropediatras ou fisiatras) devidamente treinados e habilitados nesse campo.

COMO É A AÇÃO DA TOXINA BOTULÍNICA

A toxina botulínica é produzida por uma bactéria chamada Clostridium botulinum e purificada em laboratório. Quando administrada em doses precisas e em locais específicos do corpo humano, essa substância promove um “relaxamento” muscular, sendo, por isso, tão eficaz no tratamento de quadros como a distonia e a espasticidade.

As aplicações são feitas diretamente sobre os músculos afetados, seguindo protocolos específicos.

No caso da espasticidade, o grande objetivo é diminuir a rigidez muscular, amenizando, assim, a dor e permitindo um melhor controle/uso do membro afetado, além de ajudar a prevenir (ou pelo menos tornar menos severas) deformidades advindas da hipertonia muscular. Hoje, o consenso é de que as intervenções sejam feitas o mais precocemente possível, tão logo sejam observados os sinais na criança.

Já as distonias são marcadas por contrações involuntárias e repetitivas da musculatura, causando grande fadiga física e uma série de outras dificuldades para o paciente, que não tem controle sobre esses movimentos. Da mesma forma, a toxina botulínica age “bloqueando” os impulsos anormais do cérebro sobre os grupos musculares tratados.

Em geral, o efeito da substância costuma ser mais perceptível cerca de duas semanas após a aplicação, sendo que a sua duração total varia entre quatro a seis meses, em média. Após esse período, costuma ser necessária uma nova aplicação. Porém, cada caso precisa ser avaliado individualmente, conforme as respostas dadas pelo paciente e as suas condições gerais de saúde.

É importantíssimo que a família saiba também que a dosagem não é igual para todos os pacientes. A dose, assim como o intervalo de aplicações, varia conforme o quadro apresentado por cada indivíduo, sendo muito importante o feedback familiar a respeito do tratamento – por essa razão, na Clínica Vita, temos também uma política de acompanhamento de Enfermagem, para a troca de informações com a família, no período entre as consultas.

OLHAR REABILITADOR E MULTIDISCIPLINAR

Não podemos falar em tratamento com toxina botulínica sem referir que, em paralelo, é fundamental um acompanhamento multidisciplinar do paciente com Paralisia Cerebral. As distonias e a espasticidade, muitas vezes, exigem também tratamento medicamentoso por via oral. Além disso, os trabalhos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional costumam ser fundamentais para a evolução do paciente.

Conforme dito no início do texto, a terapêutica com a TB é um PONTO DE PARTIDA, essencial para colocar o paciente em condições de avançar. Portanto, uma vez realizadas as aplicações, há todo um trabalho pela frente, envolvendo uma série de estímulos e treinamentos que essa criança precisará receber para seguir o seu desenvolvimento, com a ativa participação da família e de toda uma equipe de profissionais.