Os temas relacionados à Paralisia Cerebral não se esgotam. Poderíamos ter um blog diário apenas sobre essas questões. Na última série que fiz por aqui sobre o assunto, abordei diversos aspectos gerais, culminando nos fundamentos essenciais de um tratamento assertivo e, dentro disso, enfatizei a questão da multidisciplinaridade. Hoje quero retomar esse assunto, apresentando um segmento profissional que considero crucial nos programas de Neurorreabilitação: a Fonoaudiologia.

Na Clínica Vita, desde sempre contamos com essa expertise e, recentemente, reforçamos ainda mais o time, com a vinda das fonoaudiólogas Simone Sperança e Taís Picinini para a equipe. Ambas são mestres em Distúrbios da Comunicação Humana, com currículos altamente qualificados para o acompanhamento diferenciado que nossos pacientes – com os mais diversos comprometimentos neurológicos – necessitam.

 

No caso da Paralisia Cerebral (PC), as situações em que necessitamos de suporte fonoaudiológico são as mais diversas, indo desde os atrasos na aquisição da linguagem/fala, até as questões funcionais, como a presença de hipotonia oromandibular (falta de “força” na região da mandíbula para funções como mastigação e articulação) e disfagia (dificuldade de engolir). Em todas essas situações, a fonoterapia figura como um importantíssimo caminho terapêutico para a melhoria das condições e respostas do paciente.

Sialorreia

Recentemente, fui convidada a falar aos colegas da Neurologia Infantil, em eventos nacionais, sobre o tratamento da sialorreia e, em recente vídeo lá no nosso canal do Instagram, a pedido de cuidadores e familiares, também abordei esse assunto, que é tão prevalente e importante nos quadros de PC (e também em outros quadros, como as doenças genéticas, neurodegenerativas e o AVC). A Paralisia Cerebral é a principal causa do extravasamento ou dificuldade de deglutição de saliva nos pacientes pediátricos, e os fonoaudiólogos também desempenham um importante papel no controle desse sintoma.

Vamos entender: equivocadamente, a sialorreia é referida por muitas pessoas como uma produção excessiva de saliva. Embora isso realmente possa acontecer, devido ao uso de determinadas medicações, a principal razão para o paciente babar (não conseguir conter a saliva na boca) ou roncar, ficando com o fluxo salivar parado na garganta (aumentando muito os riscos e a incidência de broncoaspirações), está nos comprometimentos neurológicos que afetam o funcionamento da musculatura da região orofacial e dos músculos da deglutição.

Logo, o acompanhamento fonoterápico pode fazer grande diferença nesses casos, com a proposição de exercícios que visem fortalecer esses músculos, ensinar e estimular reflexos de tosse e o uso de bandagens, entre outras atividades.

Associada ao acompanhamento fonoterápico, a toxina botulínica aplicada nas glândulas salivares ajuda a controlar a sialorreia

Hoje, contamos com a administração de toxina botulínica nas glândulas salivares como uma importante medicação no tratamento da sialorreia, contando já com bons níveis de evidência na literatura médica. Com as injeões de toxina botulínica, controlamos melhor a produção da saliva, proporcionando mais segurança e conforto para o paciente. O tratamento medicamentoso, somado aos exercícios propostos e acompanhados pelo fonoaudiólogo, são capazes de, progressivamente, melhorarem também o controle mecânico do fluxo salivar – isto é, ajudar a pessoa a aprender a reter e engolir a própria saliva, sem riscos de engasgos. Esse é um perfeito exemplo de como as abordagens multidisciplinares podem colaborar entre si para o bem do paciente.