No meu último post aqui no blog, comentei sobre o grande número de perguntas enviadas pelos telespectadores a um programa de TV sobre distonia, do qual participei. Foram muitas questões interessantes, colocadas a partir do ponto de vista dos pacientes e de seus familiares. Várias delas merecem aprofundamento, como esta que toca em um aspecto crucial: qual a importância do suporte psicoemocional nos tratamentos dos comprometimentos neurológicos?
Eu diria que essa importância é muito grande, e que tanto os pacientes quanto os seus familiares próximos, envolvidos diretamente com os casos, devem ser orientados a buscar esse acompanhamento. Explico as principais razões:
- Falar em comprometimentos neurológicos é falar de um universo vasto de possibilidades que, em grande parte, envolvem situações nas quais as ideias de melhora e de evolução existem sim, mas precisam ser reelaboradas;
- É razoável pensarmos também nos impactos psicoemocionais que quadros crônicos possam acarretar, tanto para o paciente, quanto para os seus cuidadores diretos;
- Muitas vezes, os comprometimentos envolvem também a parte cognitiva e/ou transtornos específicos, que exigem a assistência adequada.
Primeiramente, temos de lembrar que em muitas doenças genéticas, doenças neurodegenerativas e até mesmo em situações como traumatismos e AVCs, algumas áreas do cérebro são afetadas de forma permanente e irreversível. Aí, o papel da Neurorreabilitação é o de explorar e de propiciar as melhores possibilidades para o paciente, dentro de suas condições específicas.
Isso significa que a criança com comprometimentos severos, causados por uma paralisia cerebral, por exemplo, não irá correr, pular e se desenvolver dentro dos marcos motores médios esperáveis para a sua idade. Mas evoluções possíveis de acordo com o seu quadro clínico, como conseguir segurar um lápis ou usar um tablet, podem significar grandes avanços!
Essa é uma importante revisão de expectativas, sendo o suporte psicológico muito importante para ajudar a família a elaborar isso e a criar um ambiente de real acolhimento e de inclusão para esse indivíduo.
Por outro lado, para os familiares envolvidos diretamente na assistência a esses pacientes, também são colocados diversos desafios, tais como: a escassez de tempo para cuidar de si mesmo, o cansaço, a falta de reconhecimento, o medo de falhar, entre tantos outros. Costumo dizer que para cuidar bem do outro, precisamos primeiro estar bem em primeiro lugar, sem sentir culpa por isso!
Relativamente ao próprio paciente, entre todos os aspectos, não podemos nos esquecer dos impactos causados pelos comprometimentos neurológicos na vida social. Pensemos no que é enfrentar um quadro degenerativo ou as limitações impostas por um AVC: além da lida com os sintomas, isso implica em todo um processo de adaptação, adequação e aceitação nas mais variadas esferas da vida, gerando grandes abalos psicoemocionais.
Para além de tudo isso, ainda temos de considerar que os limites que separam os transtornos mentais e os problemas neurológicos podem ser muito tênues. Afinal, ambos os grupos têm uma base neurobiológica. São vários os exemplos de doenças neurológicas com manifestações psiquiátricas. Sabemos, por exemplo, que entre os pacientes com a Doença de Parkinson e a Doença de Alzheimer, há também uma grande incidência de depressão.
Por todas essas razões é que o suporte especializado no campo psicoemocional é um ponto de enorme importância nas abordagens propostas para o tratamento do paciente neurológico, seja com o apoio psicoterápico, seja com tratamento psiquiátrico – isso irá variar, conforme cada caso.
Eis aqui então o caráter ao mesmo tempo multidisciplinar e individualizado do conceito de Neurorreabilitação. Nesse campo, nós cruzamos e aliamos áreas de conhecimento, para bem do paciente, dentro de suas necessidades específicas. É um caminho longo, com muitas portas de acesso, no qual cabe aos profissionais de saúde o papel de conduzir às chaves corretas para cada caso.