65 mil pessoas. Este é o número estimado de brasileiros acometidos pela distonia. O número é relativamente baixo, por isso é considerada uma doença rara, mas aos poucos ganhamos mais espaço. O Projeto de Lei 324/2019 foi aprovado pela Assembleia Legislativa recentemente e instituiu o Dia Estadual da Distonia em 6 de maio. E esta é a minha deixa para introduzir o assunto e te mostrar que apesar de não haver cura para o problema, há diversas ferramentas disponíveis para proporcionar qualidade de vida aos pacientes.

Distonia, um tipo de distúrbio do movimento

A distonia é caracterizada, principalmente, pela alteração do tônus muscular. Isso significa que a pessoa acometida tem movimentos alterados e excessivos de forma ampla e involuntária. Ela não consegue ordenar ao cérebro que realize os movimentos desejados porque o sistema nervoso central sofreu alteração. Em decorrência da contratura muscular, o quadro doloroso também é bastante recorrente.

Quando falamos sobre distonia, referimo-nos a uma doença que pode acometer diversos músculos, tais como pálpebras, pescoço, face, boca, língua, braços e pernas. Ou seja, o distúrbio pode levar à dificuldade de movimentação, de locomoção e de comunicação. Na prática, o paciente pode não conseguir mais realizar sozinho as atividades corriqueiras, como escovar os dentes, falar, comer, tomar banho, andar, vestir uma roupa, calçar os sapatos, engolir a comida. Por isso, é comum a necessidade de supervisão durante todo o tempo em casos avançados de distonia.

Não existe regra para o acometimento da distonia, podendo afetar crianças, adultos e idosos. Sua localização pode ser focal, quando compreende somente um membro; segmentar, afetando duas partes do corpo ao mesmo tempo; multissegmentada, todo um lado inteiro do corpo é afetado, incluindo membros superiores e inferiores; ou generalizada, que afeta mais membros.

Vertentes do tratamento para distonia

Como expliquei nos parágrafos acima, a distonia pode atingir diversos membros e interferir ativamente na rotina dos pacientes. Hoje, entende-se os desdobramentos da doença, mas devido à falta de identificação concreta sobre sua origem ainda não é possível falarmos em cura.

O tratamento adequado para um paciente diagnosticado com distonia deve ser integrado por uma equipe de profissionais que vai além da atuação do neurologista. Fonoaudiólogo, otorrinolaringologista, fisioterapeuta, psiquiatra, neuropsicólogo e neurocirurgião são especialistas que podem contribuir ativamente. Somado à atuação dos profissionais, diversas intervenções foram estudadas e validadas ao longo do tempo, abrangendo terapia oral, procedimentos não invasivos e até cirurgias.

Medicamentos

De forma geral, o uso de remédios no tratamento da distonia consiste em auxiliar o corpo no relaxamento dos músculos e melhorar os espasmos involuntários, como levodopa, tetrabenazine, triexifenidil, baclofeno, lorazepam, entre outros. Lembrando que o uso de medicação sempre deve ser orientado pelo médico responsável. Somente o especialista está apto a avaliar a dosagem e periodicidade da ingestão de remédios.

Toxina botulínica tipo A

Esta é uma das alternativas não invasivas de tratamento para a distonia e que não exige internação para realização.

A toxina botulínica, também conhecida como Botox, é um tratamento injetável. Ela age através do bloqueio da liberação de acetilcolina pela terminação nervosa. Quando o músculo não recebe essa substância, ele não contrai, mas se a acetilcolina chega até ele, então ocorre a contração. Desta forma, a toxina botulínica paralisa a musculatura e bloqueia a chegada da acetilcolina ao músculo, impedindo a passagem do estímulo elétrico.

É justamente por ter esta finalidade que a toxina botulínica é um dos tratamentos indicados para distonia. Sua duração varia de acordo com a absorção de cada organismo, mas costuma apresentar eficácia entre três e quatro meses, sendo necessário reaplicar nos pontos demarcados pelo neurologista após esse período.

Neuromodulação não invasiva

Também denominado de Estimulação Transcraniana, trata-se de um procedimento capaz de alterar o funcionamento cerebral, promovendo melhorias no desempenho do Sistema Nervoso Central (cérebro/medula) e no Sistema Nervoso Periférico (nervos periféricos).

Este procedimento exige equipamento de alta tecnologia, cuja ação se dá por meio de campos eletromagnéticos que atuam na superfície craniana e visam ativar e modular as conexões (sinapses) mais superficiais do cérebro. Esses campos eletromagnéticos, por sua vez, irão ativar ou inibir (dependendo do caso) as sinapses mais profundas. Neste tratamento, o estímulo eletromagnético pode atingir até 4cm de profundidade.

Eu, por exemplo, trabalho com a versão mais moderna do equipamento Magventure Magpro R20. As sessões duram, em média, 40 minutos e o paciente fica acomodado em uma cadeira confortável e conectado ao aparelho. Durante a neuromodulação não invasiva não há incômodos, apenas uma leve vibração devido à liberação das ondas eletromagnéticas. O número de sessões varia conforme cada caso e protocolo, sendo definido de acordo com critérios médicos.

Neuromodulação invasiva

Já esta neuromodulação consiste em um procedimento cirúrgico para implementação de eletrodos para modular os estímulos elétricos na região cerebral afetada pela distonia. O procedimento também é conhecido como DBS, sigla para Deep Brain Stimulation.

Para conseguir avaliar se os estímulos estão corretos, este procedimento é realizado com o paciente acordado, a fim de que ele responda às orientações do neurocirurgião. Assim, o profissional consegue avaliar se os movimentos foram estabilizados.

Após esta etapa, com o paciente dormindo, os eletrodos são conduzidos por um fio por baixo da pele para a fixação na região abaixo da clavícula. Ali é colocada uma bateria (semelhante ao marcapasso utilizado no coração) que funcionará como um gerador de sinais para os eletrodos dispostos dentro do cérebro.

Independentemente do método escolhido pela equipe multidisciplinar para tratar o paciente distônico, a fisioterapia deve ser conduzida no paralelo para estimular o cérebro. Assim como em outros distúrbios do movimento, também é preciso exercitar o corpo para minimizar a redução de amplitude dos movimentos.

 

 

Este conteúdo visa informar e não substitui a orientação de um especialista. Consulte o seu médico para esclarecer quaisquer dúvidas e realizar diagnósticos.