Você sabia que existe um Dia Mundial do Cérebro? E que neste ano a data será focada na conscientização sobre uma doença que afeta uma a cada sete pessoas em todo o mundo: a enxaqueca? Pois é, 22 de julho é a data na qual voltaremos as nossas atenções não somente para a patologia em si, mas, principalmente, para o que isso significa na vida dos pacientes.
Estamos falando de pelo menos um bilhão de pessoas que convivem com dor de cabeça crônica (leia-se episódios recorrentes, que acontecem pelo menos uma vez por semana) e demais sintomas associados ao quadro, tais como: fotofobia (sensibilidade à luz), fonofobia (sensibilidade a sons), sensibilidade a cheiros, alterações visuais (aura), náuseas, vômitos, indisposição geral, dentre outros.
Hoje, já temos vários estudos em circulação que evidenciam o grande impacto de tudo isso na produtividade e funcionalidade dos pacientes (aqui neste link é possível ler mais sobre essa realidade). Para além do sofrimento físico, temos descoberto o quanto carreiras profissionais são impactadas, relações interpessoais são prejudicadas e como a vida social como um todo vai sendo precarizada, quando o paciente não recebe (ou não adere) ao suporte do qual necessita.
Alinhada à proposta da Word Federation of Neurology, a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC) tem incentivado, via redes sociais, que as pessoas publiquem relatos sobre como supõem que seriam suas vidas sem dor. Achei a ideia ótima!
Isso abre oportunidade para que seja ouvida a voz dessa grande parcela da população que sofre de forma quase invisível, tendo a sua dor subestimada (muitas vezes nos próprios serviços de saúde) e, às vezes, convivendo por anos com subdiagnósticos.
Um dos tópicos ressaltados pela SBC é a importância de que se aumentem as verbas destinadas a estudos sobre a doença. Afinal, quanto mais descobrimos, quanto mais avançamos no entendimento do quadro, melhores respostas conseguimos nos tratamentos oferecidos.
Mas, em paralelo, também é muito importante conscientizar esses pacientes sobre o que já temos em mãos. Dizer a eles que, se uma vida totalmente livre de episódios de dor ainda não é possível (pois ainda não conhecemos a cura da enxaqueca), ninguém precisa mais ser refém desse quadro.
Apesar de ainda termos muito a descobrir sobre as causas e as implicações da enxaqueca no organismo, hoje já temos um enorme conhecimento sobre os principais gatilhos envolvidos nas crises, bem como sobre as principais comorbidades associadas. Aqui neste link explico mais sobre esses aspectos, tão importantes para o sucesso do tratamento.
E, SIM, já contamos com resultados muito significativos para diminuir a intensidade e a frequência das crises! Há pelo menos 10 anos contamos no Brasil com a terapêutica com toxina botulínica, reconhecida hoje mundialmente como “padrão-ouro” no controle da enxaqueca.
Além dos ciclos de aplicação das injeções, com as posteriores manutenções periódicas, o protocolo de tratamento propõe uma abordagem global do paciente. Isso significa uma atenta análise individualizada e a proposição de ações em diversas frentes: observação dos gatilhos, mudanças de hábitos, terapias de apoio, etc.
Eis, portanto, o nosso panorama atual: uma crescente conscientização sobre o sofrimento dessas pessoas e, como realidade terapêutica, a possibilidade de trabalharmos juntos (profissionais de saúde e pacientes), empreendendo medidas constantes de controle e de ajustes no plano de ação. Cumprimos a meta quando conseguimos alcançar algo que há muito vem sendo sonegado ao paciente enxaquecoso: a sua qualidade de vida!